Dia Nacional da Juventude 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Igreja perante as Drogas

A Igreja sempre esteve atenta ao problema das drogas. Pe. Haroldo trouxe há 35 anos a primeira comunidade terapêutica para o Brasil. Pe. Mario Picchi instalou a primeira na Itália há 45 anos.
Em 1984, a Santa Sé, promoveu encontro mundial de comunidades terapêuticas católicas. Dizia João Paulo II, naquela ocasião: “Hoje o flagelo da droga torna-se perverso em formas cruéis e dimensões impressionantes, superiores a muitas previsões”[1].
“A droga é um mal, ao mal não se dá trégua. A legalização, mesmo que parcial, mesmo sendo uma interpretação da índole da lei, não surtiu os efeitos que eram previstos. Prevenção, repressão, reabilitação: estes são os pontos centrais de um programa que, concebido e levado a efeito à luz da dignidade do homem, embasado na honesta relação entre os povos, terá o reconhecimento e o apoio da Igreja”[2].

Em 1991, João Paulo II, voltaria ao assunto durante a Conferência Internacional do Pontifício Conselho para a Pastoral da Saúde. Toxicodependência e alcoolismo frustram a pessoa justamente na sua própria capacidade de comunhão e doação. Este foi o título de seu pronunciamento[3].

Exortou os presentes usando a expressão de São Paulo aos Romanos (Rm 4,18) “Esperar mesmo quando não há esperança” reivindicando para aqueles que, seguindo o exemplo do patriarca Abraão, acreditam confiantemente nas promessas de Deus, o direito de nunca abandonar mais a esperança, mesmo quando, humanamente falando, esta poderia parecer vazia e inconsistente.

Em suas viagens apostólicas, João Paulo II, diversas vezes se referiu aos “mercadores da morte”.

Em março de 1997, a CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, através do Setor Juventude, convidou as Instituições Católicas de Recuperação de Dependentes de Drogas, para um Primeiro Encontro Nacional em Lins nos dias 4 a 7 de junho.

Em outubro de 1997, por solicitação do Diretor Executivo do Programa Internacional de Controle sobre a Droga das Nações Unidas, Dr. Giorgio Giacomelli, realizou-se no Vaticano a Conferência de Apresentação do Convênio Eclesial Solidários pela Vida.

Neste encontro proferiu palestra a Secretário de Estado Cardeal Angelo Sodano que expôs as grandes linhas do magistério em matéria de drogas e afirmou: “a posição da Igreja é firme e clara, não legalizemos as drogas”[4].

Ao final do encontro o Santo Padre João Paulo II, dirigiu-se aos participantes exortando-os: “A luta contra o flagelo da toxicomania é ocupação de todos, cada um segundo a responsabilidade que lhe cabe”[5].

De 22 de abril a 1º de maio de 1998, realizou-se a 36ª Assembléia Geral da CNBB, em Itaici.

Nesta ocasião, Dom Irineu Danelon, fez veemente pronunciamento relatando a situação e o acontecido em Lins no ano anterior e apresentando as reivindicações lá apresentadas.

Como resposta Dom Irineu recebeu a manifestação de 247 bispos presentes favoráveis a implantação de uma pastoral específica para a prevenção e recuperação da dependência química
Posição da Igreja

O problema das drogas em toda a sua extensão, isto é, da produção ao consumo, é uma corrente de males de caráter pessoal e estrutural. É verdadeiro pecado que atenta contra a vida e a dignidade humana.[6]

A droga é um mal e ao mal não se dá trégua. A legalização, mesmo que parcial, mesmo sendo uma interpretação da índole da lei, não surtiu os efeitos previstos.[7]

A posição da Igreja é firme e continua clara: não legalizemos as drogas.[8] A legalização das drogas é apenas uma perigosa ilusão, porque não enfrenta o efeito devastador da dependência e deixa de lado o compromisso da prevenção.[9]

Toxicodependência e alcoolismo, pela intrínseca gravidade e pela devastadora extensão, são dois fenômenos que ameaçam o gênero humano, tirando de cada indivíduo, no ambiente familiar e no tecido da sociedade, as profundas razões da esperança que, para ser verdadeira, há de ser esperança na vida - esperança de vida.[10]

Toxicodependência e alcoolismo são contra a vida. Não se pode falar de "liberdade de se drogar" nem de "direito à droga", porque o ser humano não tem o direito de prejudicar-se e não pode nem deve nunca abdicar da dignidade pessoal que vem de Deus.[11]

Traficantes da liberdade de seus irmãos, que os fazem escravos com uma escravidão mais terrível do que a escravidão dos negros. Os mercadores de escravos impediam o exercício da liberdade. Os narcotraficantes reduzem suas vítimas à destruição da própria personalidade.[12]

A droga é um voto interior de evasão e sufoca a essência do espírito muito antes da destruição física.[13]

Há um voto existencial solitário, devido à ausência de valores e a uma falta de confiança em si próprio, nos outros e na vida em geral.[14]

Só o empenho pessoal do indivíduo, sua vontade revigorada e sua capacidade de autodomínio podem assegurar o retorno do mundo alucinante dos narcóticos à normalidade.[15]

A distinção entre drogas leves e pesadas negligencia e atenua os riscos inerentes a toda sorte de produto tóxico, em particular os que levam à dependência, por atuarem sobre as estruturas psíquicas, reduzindo a consciência do indivíduo e levando-o à alienação da vontade e da liberdade pessoais.[16]

A perda do ideal e do engajamento na vida adulta que observamos nos jovens torna-os particularmente frágeis. Seguidamente, eles não são incitados a lutar por uma existência correta e bela, mas acabam por desenvolver a tendência de se fechar em si mesmos. Não sabemos mais minimizar o efeito devastador exercido pela desocupação de que são vítimas os jovens, em proporções indignas de uma sociedade que pretende respeitar a dignidade humana.[17]

Os jovens que tem uma personalidade estruturada, uma formação humana e moral sólida, e que vivem relações harmoniosas e confiantes com os colegas de sua idade e com os adultos, estão mais aptos a resistir às solicitações daqueles que propagam a droga.[18]

A virtude da temperança manda evitar toda espécie de excesso, o abuso da comida, do álcool, do fumo e dos medicamentos. Aqueles que, em estado de embriaguez ou por gosto imoderado pela velocidade, põem em risco a segurança alheia e a própria, nas estradas, no mar e no ar, tornam-se gravemente culpáveis.[19]
A proposta da Igreja

A luta contra o flagelo da toxicomania é ocupação de todos, cada um segundo a responsabilidade que lhe cabe.[20]

Aos toxicodependentes, às vítimas do alcoolismo, às comunidade familiares e sociais, que tanto sofrem por causa desta enfermidade dos seus membros, a Igreja, em nome de Cristo, propõe como resposta e como alternativa a terapia do amor. Deus é amor, e "quem não ama permanece na morte" (1Jo 3,14). Mas quem ama saboreia a vida e permanece nela![21]

Não se combatem os fenômenos da droga e do alcoolismo nem se pode conduzir uma eficaz ação para a recuperação das suas vítimas, se não se recuperarem preventivamente os valores humanos do amor e da vida, os únicos capazes, sobretudo se iluminados pela fé religiosa, de dar significado pleno à nossa existência.[22]

Esse mal pede um novo empenho de responsabilidade no interior das estruturas da vida civil e, em particular, mediante a proposta de modelos de vida alternativos.[23]

Prevenção, repressão, reabilitação: estes são os pontos centrais de um programa que, concebido e levado a efeito à luz da dignidade do homem, embasado na honesta relação entre os povos, terá o reconhecimento e o apoio da Igreja.[24]

A resposta da Igreja ao fenômeno da toxicodependência é uma mensagem de esperança e um serviço que vai além do fato em si, pois chega ao núcleo central da pessoa humana. Não se limita a eliminar somente o mal, mas propõe também a redescoberta do verdadeiro sentido da vida. É um serviço da escola evangélica e realizado por meio de formas concretas de acolhida, que, na prática, traduzem uma proposta de vida e uma mensagem de amor.[25]

Para a estratégia de prevenção é necessário o concurso "de toda a sociedade: pais, escola, ambiente social, meios de comunicação social, organismos internacionais; um empenho para formar uma sociedade nova, com o rosto do homem; a educação para ser homem"[26].

A família é, sem dúvida alguma, a referência principal de cada ação de prevenção.[27] Exorto, portanto, os cônjuges a desenvolver relações conjugais e familiares estáveis, fundadas num amor único, durável e fiel.[28]

Mas para todos aqueles que já caíram na espiral das drogas, são necessários oportunos caminhos de cura e de reabilitação, que vão muito além do tratamento médico, porque, em muitos casos, apresenta-se todo um complexo de problemas que requerem a ajuda da psicoterapia, seja do sujeito individual, seja do próprio núcleo familiar, em conjunto, com um adequado sustento espiritual.[29]

Convido os pais que tenham um filho toxicômano a jamais se desesperar, a manter o diálogo com ele, a prodigalizar-lhe sua afeição e a favorecer seus contatos com estruturas capazes de assumir o encargo da cura. A atenção calorosa da família é o grande sustentáculo na luta interior, para o sucesso da cura e da desintoxicação.[30]

Os bispos, reunidos em Santo Domingo, propõem: "Quanto ao problema da droga, implementar ações de prevenção na sociedade e de atenção e cura dos toxicômanos; denunciar com coragem os males que o vício e o tráfico da droga produzem em nossos povos, e o gravíssimo pecado que significa a produção, a comercialização e o consumo. Chamar especialmente a atenção para a responsabilidade dos poderosos comerciantes e consumidores. Promover a solidariedade e a cooperação internacional no combate a este flagelo"[31].

Seja estimulada também a obra dos que se esforçam por recuperar os que se drogam, dedicando uma atenção pastoral às vítimas da toxicodependência: é fundamental oferecer o justo “sentido da vida” às novas gerações que, se este vier a faltar, terminam freqüentemente caindo na espiral perversa dos entorpecentes. Este trabalho de reabilitação social também pode constituir um verdadeiro e próprio empenho de evangelização.[32]

Bibliografia:
Pastoral da Sobriedade, Nilo Momm, Edições Loyola, 1999.
Prevenção ao uso de drogas, Nilo Momm e Vilsom Basso, Centro de Capacitação da Juventude, CNBB, 1998.
Escola a Felicidade, Vida sem Drogas, Nilo Momm e Juliana Camargo Momm, Edições Loyola, 2000.
Texto-Base da CF 2001, Vida sim, drogas não, CNBB, 2000.
Revista Encontros Teológicos - Instituto Teológico de Santa Catarina - ITESC
Palestra proferida no Instituto Pastoral da Juventude em Porto Alegre.